- Grândola acolhe uma semana de partilha e aprendizagem ao ritmo do Campus João Rodrigues
Grândola acolhe uma semana de partilha e aprendizagem ao ritmo do Campus João Rodrigues

O Parque Desportivo Municipal acolhe, de 29 de junho a 5 de julho, uma semana de aprendizagem, convívio e partilha em torno do hóquei em patins.
Pela primeira vez, Grândola recebe a 2.ª edição do Campus João Rodrigues, que conta com os apoios do Município de Grândola e do Hóquei Clube Patinagem de Grândola (HCPG). A iniciativa totaliza 70 participantes – portugueses e espanhóis - com idades compreendidas entre os 8 e os 16 anos. Destes, 16 são atletas do HCPG. Num ambiente que promove o desporto, a aprendizagem e a criação de laços entre todos os envolvidos, aprende-se muito além daquilo que os livros ensinam.
Um dos mentores do Campus é João Rodrigues, cujo percurso na modalidade dispensa apresentações. Com 50 títulos nacionais e internacionais conquistados ao serviço da Seleção Nacional e dos clubes por onde passou, o atleta alia a sua vasta experiência dentro do rinque a uma notável capacidade de comunicar com os mais jovens, criando um ambiente descontraído, de respeito mútuo e proximidade.
À imagem do que aconteceu no ano anterior, a 2.ª edição deste projeto é constituída por um staff altamente qualificado, com destaque para Pedro Henriques, guarda-redes internacional português e colega de equipa de João Rodrigues, mas também Pedro Santos, treinador de guarda-redes do Sport Lisboa e Benfica, recentemente condecorado Dodecampeão com a equipa feminina sénior de hóquei em patins do Clube, e ainda Martim Costa, jogador dos Sub-19 do SL Benfica e atual Campeão da Europa de Sub-23 por Portugal. A estes nomes juntam-se os de João Filipe ("JoFi") - ex-atleta, treinador e mentor do projeto a par de João Rodrigues-, e o do monitor Carlos Fonseca ("Pica").
No plano das atividades, os participantes têm ao dispor uma programação variada que inclui sessões técnicas e táticas de hóquei (individuais e coletivas), treinos específicos para guarda-redes e jogadores de campo, torneios e a prática de outras modalidades, como andebol, futebol, basquetebol e basebol. As tardes iniciam-se com palestras e sessões de perguntas e respostas com convidados e membros do staff, que desta forma abrem caminho aos torneios de hóquei em patins, onde os jovens atletas têm a oportunidade de jogar lado a lado com os seus ídolos. À noite, quando os patins descansam, começa uma outra vertente do Campus. E porque nem só de hóquei se faz esta semana em Grândola, os participantes em regime de internato descobrem que é possível crescer a rir, a brincar e a improvisar. Entre quizzes, jogos de memória e imaginação, um peddy paper ou concursos de talentos, não há tempo para o tédio.
A expectativa era grande e, ao terceiro dia, chegou um dos momentos mais aguardados da semana: Zé Miranda chegou a Grândola, e isso bastou para os olhos brilharem um pouco mais. Campeão da Europa Sub-23, médio da equipa principal do Sport Lisboa e Benfica e prestes a disputar o Europeu de 2025 pela Seleção A, Zé Miranda é hoje um nome consolidado no hóquei nacional. Com o seu jeito descontraído, genuíno e bem-humorado, bastaram-lhe poucos minutos para conquistar os mais novos. Dentro e fora do rinque brincou, ensinou, desafiou e deixou-se desafiar. A ligação foi imediata, os pedidos de autógrafos sucederam-se, mas quando chegou o momento de partilhar o seu percurso, fez-se silêncio para o ouvir. Porque, naquela maneira simples de contar as coisas, coube tudo: o esforço, a persistência, a dedicação, mas também a alegria com que se constrói um caminho sério e ambicioso, sem perder o prazer de jogar.
Entre os convidados deste ano, destaca-se a presença de João Guimarães Rodrigues, antigo atleta da modalidade e atual dirigente, que a partir da questão “Quem aqui já pensou em desistir?” falou de resiliência — da que se trabalha nos dias em que se fica no banco ou nos treinos em que tudo parece correr mal. Destacou a importância de aceitar que há coisas que não se controlam, e de manter o foco naquilo que depende de cada um: a atitude, o empenho, e a forma como se reage ao erro. Salientou ainda o papel dos pais e o quanto é importante que o seu apoio surja sem culpas apontadas a treinadores ou árbitros perante um insucesso.
Não se trata apenas de treinar. Nem de competir. O Campus João Rodrigues é feito de uma vontade genuína de aprender sem pressas ou pressões. Em Grândola, estreou-se com a leveza de quem sabe o que importa — criar memórias, partilhar experiências e deixar que haja espaço para errar, perguntar e tentar outra vez. Aprende-se no rinque, nas conversas, nos intervalos. Há quem leve desta experiência uma nova finta, outros levam amigos para a vida — todos levam algo. E quando a semana chegar ao fim, não fica apenas o que se treinou. Fica tudo aquilo que se viveu e que a memória tratará de guardar.
Mais do que hóquei, pela primeira vez no Alentejo, formou-se uma família chamada Campus João Rodrigues.