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Sociedade Musical de Fraternidade Operária Grandolense – “Música Velha”
A Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense (SMFOG) foi fundada no dia 1 de Maio de 1912, Dia do Trabalhador. O sócio n.º 1 foi Alfredo Lúcio Feio, operário corticeiro, e entre os primeiros músicos da SMFOG encontravam-se Artur Santana (trompete), António Jacinto Vital (bombardino), António Palhas (corne ou fliscorne), José Celorico (trombone), José Augusto Cardita (requinta) e Lúcio José Feio (contrabaixo), sendo que o primeiro regente da Filarmónica foi Francisco Eduardo Douwens, tendo-se-lhe seguido António Jacinto Vital, “O Mestre Cabrela”.
A primeira sede localizou-se na Rua Almirante Reis e, posteriormente, numa casa anexa à Igreja de São Pedro. A partir da 2.ª metade da década de 1930 passou a ocupar o edifício onde funcionara o Hospital da Misericórdia.
Nos anos de 1936/1937 foi constituída uma comissão para a realização de obras no edifício composta, entre outros, por Abilardo Assunção, Francisco Guilherme, João Roldão, Tarquínio de Bettencourt, Professor Trajano e José Palhas. Foi neste período que se deu a cisão na SMFOG que veio a dar origem à “Música Nova”, integrada no Sport Lisboa e Grândola, e que a SMFOG passou a ser conhecida por “Música Velha" [1].
Durante o Estado Novo a SMFOG desenvolveu uma dinâmica cultural de enorme relevância no panorama local, destacando-se as iniciativas promotoras da liberdade e da democracia. Nas décadas de 1960 e 1970 foram promovidos espetáculos, encontros e conferências com a presença de importantes figuras da oposição ao regime. Entre estes salientaram-se [2]:
1963
- O Grupo Cénico da SMFOG levou à cena as peças Doidos com juízo de Jacoby e Lanfs e As cinco vogais de Romeu Correia (escritor e dramaturgo);
- Criação de aulas do 1.º ciclo do Ensino Liceal para os componentes do Grupo Cénico.
1964
- Espetáculo com o Grupo Coral da Academia de Amadores de Música de Lisboa, sob a direção de Fernando Lopes Graça (músico e compositor);
- Comemorações do 52.º aniversário com a presença de Carlos Paredes (guitarrista), Fernando Alvim (viola), José Afonso (músico e poeta) e Rui Pato (viola);
- O Grupo Cénico apresentou a peça O Doido e a Morte de Raul Brandão, com direção artística de Hélder Costa, a recitação de A Gota de Mel de Léon Chancerel, com tradução de António Pedro e ensaiada por Hélder Costa, e a peça O Delator de Maria Teresa Horta. Apesar de o Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo não ter autorizado a representação desta peça, por ofício datado de 13.06.1964, a peça tinha sido representada no dia 31 de maio(4).
1965
- Exposição de gravuras e conferência proferida pelo pintor Rolando Sá Nogueira.
1970
- Exposição de artes plásticas e fotografia.
1971
- Exposição de gravura de Manuel Cabanas.
1972
- Exposição itinerante dedicada a Alves Redol, colóquio e convívio com a presença de Armando Caldas (ator), Isabel da Nóbrega (escritora e jornalista), José Saramago (escritor e jornalista), Adriano Correia de Oliveira (cantor), José Afonso, Samuel e Carlos Paredes;
- Nas comemorações do 60.º aniversário teve lugar a primeira edição da Feira do Livro em parceria com as editoras Livros Horizonte, Prelo Editora, Editorial Presença, Editorial Estúdios Cor, Edições Delfos, Editorial Estampa e Seara Nova.
Quando atuou na Música Velha, em 17 de maio de 1964, José Afonso ficou impressionado com a dinâmica cultural e com o espírito de liberdade e fraternidade existente na coletividade tendo afirmado, em carta enviada aos pais, que se alguma vez tiver de deixar esta terra, é a lembrança destes homens que conheci em Grândola e noutros lugares semelhantes que me fará voltar. Foi na sequência desta atuação que, dias depois, enviou a José da Conceição o poema Grândola, Vila Morena, lido pela primeira vez em 31 de maio na SMFOG: “Grândola Vila Morena/Terra da Fraternidade/O Povo é quem mais ordena/Dentro de ti ó cidade/Em cada esquina um amigo/Em cada rosto igualdade/Grândola Vila Morena/Terra da Fraternidade/Capital da Cortesia/Não se teme de oferecer/Quem for a Grândola um dia/Muita coisa há-de trazer" [3].
[1] ALMEIDA, Manuel Costa Gaio Tavares de, A cultura e o recreio nos lazeres dos grandolenses do fim do séc. XIX e da 1.ª metade do séc. XX, Câmara Municipal de Grândola, 2000, pp.119 – 147.
[2] Arquivo Municipal de Grândola, Fundo Câmara Municipal de Grândola, Correspondência recebida da Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, caixa 381, cota 22.6.
[3] BIZARRO, Alcides, Tributo a José Afonso, Câmara Municipal de Grândola, 2005.
[4] Informação sobre a data de representação da peça O Delator indicada por José Henrique Grego Horta.
Rua Evaristo Sousa Gago, 16-18, 7570-353 Grândola
Consultar a Sociedade.